segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Resenha: Os Novos Jurássicos

POSTADO POR FÁBIO NAVARRO - 01/11/2010

Como uma banda nesses tempos onde aparentemente nada mais é novidade formada por três amigos poderia caçar uma transcendência sonora? A resposta é simples: não procurando achar a salvação do rock em nada do que faz...

Assim essa banda de Leeds começou há dois anos atrás uma caminhada que desencadeou no lançamento de Growing Pains, disco de estreia do Dinosaur Pile Up. O nome tem um pouco de coincidência óbvia com a jurássica banda que se apresentou no Brasil este ano (Dinosaur Jr.), o que faz com que o som do trio esteja sempre caminhando entre a cruz e a lava das comparações - e o pior, correndo o risco de a cada momento ter suas claves mais agudas sendo depreciadas pelos fãs das bandas originais.

Não que o DPU sofra alguma crise de identidade. Aliás, isso é coisa que não falta para Matt Bigland, Tom Dornford e Steve Wilson, afinal de contas os três quando ainda moravam em Leeds, não se conectavam com a cena inglesa do alternativo - Amy, Lily e nem nada do que andava pelas rádios. Os três gostavam se reunir para ouvir... grunge.


Na boca do vulcão alternativo inglês, o Dinosaur Pile Up era viciado nas bandas dos anos 90, fato que apenas era reforçado em cada entrevista depois que a banda começou a fazer algum barulho - já que Matt (orfão de pai), em todas dizia ser filho de Dave Grohl. Fã de carteirinha do Foo Fighters, o trio tem muito mais em comum com Dave do que pode-se pensar. Matt no auge do exagero hype já foi considerado o novo Kurt Cobain, muito pela capacidade de tecer contrações faríngeas que passam da suavidade aos mais transloucados e cortantes guturais gritos.

E essa característica está presente em todas as faixas do disco de estreia da banda. Depois da antecipação sofrida pelo primeiro EP do grupo (The Most Powerful EP on Earth), toda uma cepa de bactérias sedentas alocadas em placas de cultivo e embebidas na distorção e fúria os estavam aguardando. E o disco deles é sim de uma completa e visceral barulheira sem fim. Imagine-se com o poder de gravar seu primeiro registro, sendo que você se considera filho de uma das lendas do grunge. O que você faria?

Matt e seus comparsas lançaram uma onda que pareceu correr apenas por Leeds: o new grunge. E o disco é a semente desse movimento. Se algum dia um Indiana Jones matrixiano aparecer para cavar estruturas deterioradas, pode ter certeza que o disco será taxado como marco histórico desse movimento. Mas apesar de empolgante, não pode (e nem deve) ser visto assim.


Growing Pains é quase uma homenagem à todas as bandas que passaram pela vida do trio. As primeiras três canções do disco ("Birds and Planes", "Barce-Loner" e "Never That Together") são uma coleção "pixiniana foo fighterlógica" dinossaúrica ramônica, que chega a parecer que você está ouvindo um disco de homenagens ao grunge. Apenas na quarta faixa, "Mona Lisa", a banda parece mostrar sua verdadeira face. Não que as três primeiras canções sejam ruins. Muito pelo contrário; Matt tem a afinação afônica perfeita em conjunto com uma destruidora cozinha. A bateria chega a emitir gotas salínicas de suor tamanha a força e velocidade impressa. Mas falta a assinatura que "Mona Lisa" tem. E a canção não decepciona em nenhum momento. Serras elétricas bases fazem dela uma das músicas mais bacanas desse ano. O clipe ajuda e muito...

E aí a banda parece achar seu caminho, com a canastríssima "Broken Knee". A canção merece esse adjetivo pois como toda boa balada roqueira é despretenciosa na medida certa, dá para balançar a cabeça do mesmo jeito que sorrir desavisado. "Hey Man" parece novamente estacionar a banda em uma fórmula "silverchairniana" de comoção como se fosse possível reeditar "Anna's Song". Esse é o instante perfeito para que os deterioradores ataquem, mas o momento afásico da banda é marcado por peso. Não compromete o contexto geral, mas não adiciona nada.

O real Dinosaur Pile Up volta em "My Rock'n'Roll", com a letra confessional demais e até a última gota espumando uma raiva incontida, liberada em cada veia saltada no pescoço latejante de Matt, que atomicamente vai dilacerando-as aos poucos cada vez que a canção aumenta. Uma das melhores faixas do disco. "Maybe It's You" são todas as lições do pop romântico de Joey Ramone e as baladas do tipo "Big Me" juntas. Daquelas que são capazes de reunir em três minutos adolescência, amores impossíveis e beijos cheios de primeiras nicotinas.


"Love to Hate Me" tem a pegada mais pesada e uma letra hilária ("Eu sou aquele que assusta sua mãe, porque eu pedi a filha dela"). Mais uma vez são dilacerantes os riffs e a picardia desprenteciosa. Nada parece abalar a banda que solta-se mais quando não tenta homenagear nenhum de seus heróis. Nossos ouvidos agradecem. A bateria de "Traynor" é quase taquicardia de evolução e eles finalmente conseguem emplacar uma sequência de músicas sem nenhuma afetação e com acordes, que em desabalada carreira transformam o disco em uma poderosa máquina de aceleração sináptica. "Hey You" é a balada verdadeira, mas se levada muito à sério pode trazer alterações de humor nos mais metaleiros. É apenas banquinho, violão e uma coleção de camisas de flanela. Não precisa ser politicamente ativa, muito menos trazer a revolução contra o mundo emo. Simples e mais nada...

"All Around the World" é a "My Way Home" do Dinosaur Pile Up. Com os riffs quase beirando o auto-fagocitar de notas, a banda termina o disco com o dever de casa feito. Pureza de rock na garagem; um clima que fica claro em todo o correr da agulha pelo acetato. Aliás, esse disco é fora de tempo. Se lançado nos anos 70, definitivamente seria vanguarda e nos 90 seria mais um para fazer o deleite da MTV ou Sub Pop.

Mesmo com um amontoado de homenagens e a banda lutando para achar seu próprio caminho, Growing Pains é um daqueles discos que podem ser chamados de excelentes estreias. Uma banda mostrando que suas raízes e influências são fortes e que é verdadeira em relação ao som. No mundo onde tudo parece um pouco fabricado entre vestidos de carne crua que não sangra (desculpa Frejat pelo trocadilho), o Dinosaur Pile Up é uma banda muito mais do que bem vinda. Que venha o próximo disco!

Dinosaur Pile-Up - Growing Pains [2010]


Nota: 8,0

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