segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Resenha: Uma Estreia Com Força Veterana

POSTADO POR FÁBIO NAVARRO - 03/01/2011

Pelo simples fato de despertar emoções, a música já deveria ser tratada como assunto de Estado, passível de percorrer qualquer um dos leaks - sejam eles wikies ou não. Notas com a capacidade de transformar pequenas ideias em visualizações concretas e completas de todas as partes imersas dentro do universo, são sim as fronteiras mais importantes entre a alma humana e o descolorir gradual que é o passar do tempo, ou seja, a vida.

Existem sensações distintas para cada conjunto de notas. Algumas perfazem desespero, outras ódio e por muitas vezes felicidades embebidas em lacrimosas nuances. Mas a única certeza é que mais cedo ou mais tarde, alguma dessas reações inerentes aos acordes acaba pegando em cheio seu ventrículo esquerdo. Isso tudo sem contar a visualização física do que se ouve.

Nesse contexto de crescer a área imaginativa e descritiva, encaixa-se o disco da Mini Mansions, homônimo e primeiro da banda (já que apenas existia um EP de 2009). Michael Shuman (Queens of the Stone Age), Zach Dawes (baixista da Spinnerette na turnê australiana) e Tyler Parkford colocam dentro de doze canções milhares de lugares que são desenhos iluminados. Eras que passam por entre seus ouvidos, derretendo qualquer tentativa de comparação. Distante das dezenas de regurgitações facilmente encontradas em discos onde as bandas tem de origens tão fortes quanto os três integrantes.

O disco todo tem uma aura sépia catapultada pelos sons pesados que se produzem. Não necessariamente depressivos e mórbidos, mas como uma história em quadrinhos de suspense policial onde as personagens envolvem-se em triângulos psicodélicos. Distorções simples como na introdução de "Vignette #1", que abre o disco colocando um certo grau de periculosidade no ar. "The Room Outside" transborda as influências londrinas da banda. Como se fosse gravado em 1969, a Mini Mansions coloca ideias beatlenianas de lisergia em forma de canção. Uma sensação que vai percorrer todo o registro. Mas não de maneira obrigatória.

A imponência de tempos onde os Beach Boys também reinavam assombra essa segunda canção. Mas também percebe-se que tocar em uma banda como a Queens Of The Stone Age deixa marcas, vide o final de "The Room Outside". Mas os tempos ácidos são reciclados com os primeiros acordes de "Crime Of The Season". Cabaré em notas de filme noir, com direito a visões de bares quase sujos, supergrassiando por aqui e acolá a banda mostra que tanta referência não atrapalha e sim define uma identidade.

Identidade que muda com "Monk", "Wunderbars" e "Seven Sons": despojadas pelo caminho mais pop e ao mesmo tempo deixando um pouco a psicodelia de lado e investindo em refrões grudentos. Até a programação de batidas em "Wunderbars" é um distanciamento do início do disco. Noções mais profundas e cada vez mais distantes do chamado rock básico. Métricas instrumentais que se juntam e vão formando mais e mais camadas de sonoridades. E mesmo "Seven Sons" voltando ao quase cabaré rock, a canção funciona bem no quesito audição.


Quando "Vignette #2" entra em cena, o disco já foi consumido pela metade e ainda não existe sinal de cansaço, mas o clima muda. Uma certa sombra parece querer tomar conta das composições. Mesmo "Kidie Hypnogogia" sendo introduzida com lembranças de Mercury Rev, a canção tem um peso de melodia que torna-se palpável. Os rapazes da Mini Mansions aprenderam todas as lições do Álbum Branco e colocaram em "Majik Marker". Fazem da canção quase uma "homenagem" a estrutura de "Hapinness Is A Warm Gun".

Excelente revelação ver uma banda que coloca muito mais o peso de Lennon ao açúcar de McCartney e mesmo assim consegue soar menos cerebral e mais grudenta. A sequência com a canção "Girls" consegue mesmo diminuindo ainda mais o ritmo, tornar-se uma balada nervosa com cores cada vez mais férricas. "Vignette #3" faz o anteparo quase perfeito para o final do disco com uma épica "Thriller Escapade". Com um piano e a voz duplicada, torna-se quase imediatamente um aglomerado de sinapses grudentas em seus ouvidos. Uma canção que fecha muito bem um disco, que bebe das fontes extremas na genialidade do rock. Não apenas copia alguma reação química, mas moderniza passagens dentro de um céu escuro e trovoado. Como se fosse possível andar por entre a linha que divide o tempo, através das notas.

O disco da banda Mini Mansions é uma das belas estréias do ano. Por mais que as canções tenham a sua própria cadência e lisergia, essas são as notas que farão você procurar mais sobre o grupo.

Mini Mansions - Mini Mansions [2010]


Nota: 9,0

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