Dicas do Gus: Blitzen Trapper - Destroyer Of The Void (2010)

Por trás da capa cheia de simbolismos e certa reverência, o Blitzen Trapper trás o costumeiro mais do mesmo: indie + folk + alt. country dos bons. Mais peso e a semelhança ao álbum Wild Mountain Nation (2007) dizem muito do que a banda conseguiu se tornar ao longo de sua história.

Depois do ótimo EP Black River Killer (2009), em que a banda abusou das pegadas pop, charmosas e atraentes (ouvir "Silver Moon", "Going Down" e "Black River Killer") em canções que mais pareciam ser feitas para trilhas sonoras em seriados de tv, o Blitzen Trapper retorna com um trabalho mais adulto e talvez um pouco "intragável" para quem estava acostumado aos trabalhos anteriores.

Falar da banda é sempre tarefa difícil visto que são verdadeiros campeões de público e crítica. A questão é: até onde ir e como não se perder em meio a oscilações no processo de composição? Fãs mais aptos podem perceber a "abrangência" de diversas influências nas 12 faixas que compõe a obra (Bob Dylan, Bonnie 'Prince' Billy, Wilco ou Band of Horses e, pasmem, a voz de Eric Earley se parece em alguns momentos com a voz do Alex Turner!).

De toda essa mistura, pode-se dizer que surgiu Destroyer Of The Void - um misto do que a banda continua sendo com a evolução que ela irá levar para o seu futuro- e mais, concisão é a palavra certa para esse trabalho, visto que a maior parte da experimentação ficou para trás e o que resta disso tudo é uma banda segura nas próprias bases e sobretudo na maneira como levar seu som adiante.

Adentrando o disco, a faixa que dá nome à bolacha inicia preguiçosamente e a medida que se desenrola vai mostrando a beleza e poeticidade de sua letra - "I can see the future in your eyes, shining light in the sky... I can feel the future in your skin" - enquanto um coro feminino suspira ao fundo e temos aí um caso de amor dos mais bonitos. "Laughing Lover" é sincera e acelerada com riffs de guitarra e incansáveis violões em refrões quebrados. "Below the Hurricane", além de uma bela canção, é calma e reflexiva e nem parece se tratar de um furacão, como entrega o nome.

A animada baladona " The Man Who Would Speak True" é deliciosamente interpretada por Eric Earley (guitarra, vocal) e seus mágicos dedilhados ao violão com direito à gaita; a melhor do disco! "Heaven and Earth" é arrastada, melancólica e bem orquestrada, tem uma das letras mais emocionantes do ano e tem tudo para ser single, balada deliciosa para quem está apaixonado. Em "Dragon's Song" a harmonia entre guitarra e bateria fala mais alto. "The Tree" é bem ao estilo Sufjan Stevens cheio de suaves "la, la, la, la, la" e tem a participação toda especial de Alela Diane - ouvir o ótimo álbum dela de 2009, To Be Still.

Se tratando de Blitzen Trapper, é sempre impossível profetizar o que cada trabalho terá de novo em relação ao outro; seria tolice imaginar a banda assumindo patamares mais pop ou pegajosos. Eles fazem mais do que isso, inovando e permanecendo fiéis às raízes sem prejudicar o que os ávidos fãs esperam deles.

O amadurecimento enfim chegou, nem cedo nem tarde, mas no momento certo em que deveria acontecer. Se Destroyer Of The Void veio afirmar o surgimento de um novo rumo para a banda onde o problema não é de todo a construção do disco mas o "tom" a ser assumido pelo grupo, então que fique claro que aqui não há mais nada a não ser a dissipação total dos laços que os atavam ao encontro de sua musicalidade.

Blitzen Trapper - Destroyer of the Void (2010)

Nota: 8,9

Esta foi uma dica de Gustavo Meirelles, do blog Life is a Song.