terça-feira, 15 de junho de 2010

Entrevista: Arrows Of Love



A internet transformou o globo terrestre em algo quase tão pequeno quanto uma bola de golfe. Tamanha a diminutiva que quase não espanta a presença de um cidadão tupiniquim no meio do caminho entre uma banda da Inglaterra e um blog brasileiro. Mais espantoso ainda é o nome Caetano Veloso ser citado em uma entrevista com o Arrows Of Love, uma banda que tem nos poderosos riffs sônicos lisérgicos uma bem concreta parede sonora.

A banda inglesa anda ocupada ultimamente, tocando em festivais e gravando seus EPs - o que já fez com que o jornal The Independent os colocasse entre os melhores do ano passado. Seus dois registros (Burn This Town e In The Year Of 2525) possuem referências que misturam as mais pesadas cores primais e cellos nervosamente poderosos. Uma banda que que navega em plataformas menos convencionais mas nem por isso difíceis, com uma soturnidade melódica que faz com que ainda exista aquela esperança de que os bons sons sempre prevalecerão. Uma conversa onde apareceram a música, ideias e uma dica preciosa para as pessoas que produzem shows no Brasil. A entrevista que estreia o espaço novo do DiscoPops foi assim...

DP: Como vocês se conheceram e quando você percebeu que o som do Arrows estava pronto? Quer dizer, um dia você disse: "Ok, nós temos uma banda e o som será assim", ou quase tudo se encaixou por si só?

Nima: Na verdade, minha última banda tinha terminado e eu estava ansioso para me concentrar em algumas coisas novas que eu tinha escrito. Houve um grande show reservado na Secret Garden Party - uma festa daqui - e eu chamei os meus amigos e formamos um sexteto. O som formou-se no mesmo no momento; tocamos durante uma semana e fomos para o palco, sem qualquer ideia do que estávamos fazendo.

DP: Todas as músicas da banda têm uma certa urgência e explosões, mas em "Desire", por exemplo, existem alguns espaços que foram preenchidos com notas calmas, mas sempre lembrando que as explosões podem acontecer a qualquer segundo. Quais são os sentimentos por trás disso? Você tem que estar em um dia intenso para escrever essas músicas?

Nima: (Risos) Eu não sei. Os sons diferentes, estados mentais diferentes e modos diferentes. Foi muito bom trabalhar com esse leque de instrumentos e isso significa que temos um monte de opções - é divertido usá-los.

DP: O que você gosta de ouvir e há algum tipo de influência dessas bandas na Arrows of Love?

Nima: Muda o tempo todo. Há umas poucas bandas americanas do início dos anos 90 que alguns de nós realmente adoram. Mas muda muito, de novo com dias diferentes, bandas diferentes.

DP: O nome da banda, Arrows Of Love, foi retirado de um poema de William Blake (Jerusalem: a emanação da Albion Giant), certo? Os autores que você lê têm qualquer influência sobre as letras? Especialmente em canções como "Prescriptions"?

Nima: Na verdade "Prescriptions" foi inspirada em uma obra de arte, feita por uma grande artista japonesa aqui no Reino Unido chamada Natsue Ikeda. Ela tem uma instalação onde um cara faz a leitura de muitos nomes químicos e instruções de garrafas de medicina. Isso me fez rir, porque eu pensava sobre todas as regras em nossas vidas diárias. William Blake definitivamente me influenciou em algum lugar assim como muitos dos autores que eu li, mas há um cara que eu tenho à mão sempre, que é George Orwell.

DP: Como vocês encontraram o momento certo para misturar o violoncelo com todas as guitarras barulhentas? O cello é um instrumento forte; isso facilita ou não?

Kate: O violoncelo elétrico certamente torna as coisas muito mais fáceis para começar, o que significa que posso combinar com o resto da banda em volume! As peças que eu escrevo são muito rítmicas e repetitivas. Eu trabalho em estreita colaboração com a bateria e isso se encaixa bem dentro da mistura, podendo assim extravasar na canção. Minha primeira banda era um grupo de drum & bass que tocava ao vivo, e foi onde eu aprendi o truque para escrever estas melodias e também brincar com os tons. Uma linha melódica bonita não é adequada para o Arrows of Love; a banda tem mais à ver com um som mais pesado e arenoso. Criar pequenos ganchos que posso misturar com as guitarras ajuda a criar um som unificado.


DP: A Arrows of Love é uma banda sem gravadora. Independência é a chave na música de hoje? Você acha que uma grande gravadora não ajuda mais?

Nima: Acho que gravadoras, não importa se são grandes ou independentes, tem que ser parceiros naturais da banda. Eu nunca diria que cada grande gravadora é uma merda, porque descobri através delas grandes bandas. Mas eu definitivamente acho que nos dias atuais a medida do seu sucesso não é mensurada pelo fato de ter um grande contrato com uma gravadora. Qualquer pessoa que quer fazer algo com a sua música agora pode fazer; eles podem gravar em seus computadores em casa, com microfones baratos, usando os ouvidos como medida de mixagem, confiar na sua canção e gravar alguns discos para vender em shows e em lojas locais. Isso é tudo que eu fiz no início da minha última banda, a Hush The Many (Heed The Few), sem nenhum contato na música e com um CD gravado em casa que enviei para algumas revistas que eu gostava. Fiz alguns shows em festivais, tive distribuição e o disco foi parar nas mãos de um grande DJ que, em seguida, jogou na BBC Radio 1 que escolheu-nos para uma sessão ao vivo e etc. Depois de um tempo, fiquei sabendo de muitas bandas que foram contratadas por gravadoras. Então, sim, basta tomar as suas decisões e ir com seus planos e se alguém quiser ajudar no caminho, ótimo. Mas se não, isso não significa que você tem que sentar e esperar.

DP: Grandes festivais ou shows menores - o que vocês preferem?

Nima: Ahhh, essa é uma pergunta dura. Pessoalmente, eu amo estar em uma pequena sala com palco sem separação entre nós e a plateia, suando juntos e frente à frente. Às vezes, grandes shows você ainda pode ter essa energia; lembro-me de tocar em Perugia na Itália e a galera era tão bacana que ainda tínhamos a mesma energia em um clube. Uma das coisas boas sobre grandes shows pode ser o som, mas eu odeio estar separado da plateia.

DP: Às vezes, quando eu escuto as músicas de vocês, tudo soa tão familiar que é quase como se a Arrows fosse do Brasil. O estilo e forma das letras me lembram isso. Você conhece alguma banda brasileira?

Nima: (Risos) Eu conheço o Caetano Veloso e eu tinha um amigo que começou a tocar bateria no CSS, mas esses dois exemplos são completamente diferentes entre si.

DP: Aqui no Brasil temos acompanhado o fechamento de muitos blogs e sites que postam músicas gratuitas. Você acha que ações como a Digital Act irão resolver os problemas de downloads gratuitos ou a solução não é proibir, mas construir uma parceria que faça todo mundo feliz?

Nima: Eu realmente não sei muito sobre o Digital Act, mas o que eu sei é que desde que me descobri por gente tenho descoberto grandes músicas por amigos que copiam as coisas que eles gostam de ouvir ou usando programas e sites que compartilham música. Eu não acho que as pessoas que repassam música gratuitamente estão fazendo algo de errado ou ruim. Isso espalha a boa música. E eu tento dar a nossa música gratuitamente para quem gosta de nós sempre que posso. A única razão pela qual as empresas não vão deixar isso acontecer é porque eles querem mais lucros. Vender música é como vender a água; acontece, mas isso não quer dizer que seja certo. Eu pessoalmente acho que seria legal se todas as músicas tivessem versões gratuitas e então se você realmente ama a banda compraria edições especiais ou itens de colecionador que você pode segurar em sua mão, com trabalhos artísticos nos encartes e as letras ou qualquer coisa. Depois dessa resposta eu acho que devemos liberar um link onde os leitores possam ter nosso primeiro EP de graça também. Corram lá e curtam.

DP: E quando podemos esperar shows aqui no Brasil ou na América do Sul?

Nima: É só alguém marcar alguns shows que nós vamos aí tocar.


Entrevista realizada por Fábio Navarro
redator do DiscoPops e editor-chefe do Gangrena Diário

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