terça-feira, 14 de setembro de 2010

Resenha: A Crescente Onda Sonora

POSTADO POR FÁBIO NAVARRO - 14/09/2010

Como exigir uma síntese menos detalhada e mais rápida se o som de uma banda demora longos anos para ser condensado em cúmulos nimbus de efervescência atômica? É possível que seja necessário, afinal de contas a evolução adaptativa obriga seus músculos a procurarem a melhor maneira de contração excêntrica. Mas a impressão que se tem é de que nesses tempos de sacrilégios e policiamento de opiniões, necessário seria reservar um tempo para acompanhar cada química evolucional de um grupo.

Então separe um calhamaço de segundos para ouvir toda a história em notas dos Manic Street Preachers. A banda de Blackwood, no País de Gales, está rodando o planeta desde 1992. No lançamento de Generation Terrorists, em 1992, eles aproveitaram toda a aura de mistério que as letras de Richey Edwards possuíam (e não é à toa que a banda tem uma alma perturbada, afinal de contas o termo "4 REAL" estava cravado no braço de Richey em uma tatuagem feita por navalha). Mas além disso ainda um outro entrecanto aloja-se na pele da cada integrante.

O mesmo Edwards cravado desapareceu misteriosamente em 1995 logo após o lançamento de The Holy Bible, em 1994. Após 13 anos de procura, ele foi declarado presumidamente morto. James Dean Bradfield, Nicky Wire e Sean Moore levaram os Preachers (como são chamados) em direção ao que ouvimos nesse ano de 2010 no disco Postcards From a Young Man, uma coleção de verdades embebidas em power rock que são exatamente como as coisas teimam em não ser atualmente: uma viagem que começa vagarosamente e durante o percurso vai ganhando milhagens e cores cada vez mais fortes.


"(It's Not War) Just the End of The Love" começa com orquestrações que seguirão o disco em quase toda sua totalidade. A letra que mostra a caminhada em direção ao futuro cabe como luva na história de vida da banda e dos ouvintes. Definitivamente os dias cinzas ficaram para trás, pois os riffs são cortantes e precisos. "Postcards From a Young Man" segura a onda de velocidade e joga um suingue quase gospel folk dentro de seus ouvidos.

Quase que na armadilha de um hino de arena com os isqueiros acesos e plateia cantando junto, a canção é apenas o início, que segue na mesma levada de balada épica que aparece em "Some Kind of Nothingness", que tem a participação de Ian McCulloch (Echo and The Bunnymen). Uma canção que tem a beleza como potência.

E é nessa canção que o gospel entra como uma poderosa onda que arrebenta, mostrando uma grandiosidade quase inesperada muito bem vinda, diga-se de passagem, e que começa a dar ao disco ares especiais, o que se confirma em "The Descent (Pages 1 & 2)", onde os violinos são notados em coro ímpar. A canção, mesmo com a repetida estrutura de "estrofe-refrão-estrofe-refrão", não deixa de ser extremamente agradável aos ventrículos.


"Hazleton Avenue" indica que a banda vai transitar novamente pelo pop rock mais seminal. A guitarra simples não deixa marca de mesmice mas sim um intrincado jogo onde harmonias se colidem formando um mosaico hipnótico de cores que lentamente se dissolvem por entre seu peito. "Auto-Intoxication" vem com os anos 80 e o som de Gales até o fundo da alma da banda. Prontos para assoviar junto em qualquer dia de verão, os Preachers deixam de lado as orquestrações que foram levadas ao extremo na música anterior e colocam o pé fundo no acelerador. Postcards From a Young Man é um disco que distribui bem as faixas pela sua história cantada, como se a verdade da viagem fosse irremediavelmente necessária.

"Golden Platitudes" pisa em freios que colaboram com o clima um pouco mais calmo de certas partes do disco. Voltam os coros de vozes e a banda passa meio que desapercebida pelo perigoso ritmo da repetição, mesmo a canção sendo bem elaborada e bela. Não existe a necessidade de transcender, mas sim apenas uma leve síntese do que o som pode ser.

Talvez esteja aí a beleza de não alongar-se nas medidas, nas palavras e nos sons - e "I Think I've Found It" mostra isso em sua plenitude. "A Billion Balconies Facing the Sun" mostra a fonte onde algumas bandas beberam no quesito riffs e levada. Com a letra em forma de atestado de maturidade, a banda recobra a veia mais pesada que estava meio atrasada na estrada.


"All We Make is Entertainment" tem suas raízes no rock americano de Springsteen e o trincar das viradas de bateria aumentam ainda mais essa característica - talvez a música do disco que mais se parece com outras da mesma espécie, mas nem por isso descartável. "The Future Has Been Here 4 Ever" coloca os dois pés na arena e é possível perceber a velocidade do vento enquanto as notas batem em seu rosto acompanhadas dos redemoinhos ao longo da estrada. Tudo isso terminando com a poderosa "Don't Be Evil", com guitarras precisas e que grudam bem os riffs, do mesmo jeito que o refrão. Um belo final de viagem com uma história bem contada.

Postacards From a Young Man mostra uma banda precisa que mesmo com todas as batalhas pesadas, ainda tem potência e cadência necessárias para montar um conjunto de notas que podem transformar um simples disco em uma experiência. Mesmo "pecando" na limpeza da produção e por alguns momentos que deixam no ar a sensação de que faltou não repetir as rotas, o disco é um atestado de uma banda que ainda é capaz de fazer algo muito bom.

Manic Street Preachers - Postcards From A Young Man [2010]


Nota: 8,5

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