terça-feira, 9 de novembro de 2010

Resenha: Experiência Adquirida

POSTADO POR LUCAS LIMA - 09/11/2010

James Murphy daria um bom engenheiro químico. Em cerca de nove anos de carreira, o LCD Soundsystem emplacou três discos que, com uma nova fórmula química visceral produzida por Murphy, substituem qualquer Red Bull da vida nas noites de final de semana - o duplo auto-intitulado de 2005, com a clássica master "Daft Punk Is Playing At My House"; Sound of Silver, de 2007, construído de cabo a rabo com tijolos banhados em chumbo como "North American Scum", "U v Them", e a épica "All My Friends"; e This Is Happening, suposto último álbum de estúdio da banda lançado neste ano com faixas longas como "Dance Yrself Clean", "I Can Change" e "Pow Pow" que não perdem o suingue nunca.

Foram nove anos criando trabalhos que se superavam a cada data de lançamento. Entre os três discos base, um EP, dois álbuns de remixes e outro trabalho patrocinado pela Nike com uma proposta nobre compuseram a massa, o glacê e o recheio do bolo gerado com perfeição pela banda. Considerando a especulação de que o grupo de Nova York iria depois de This Is Happening parar de lançar discos de estúdio, só faltava uma coisa para que a carreira do LCD Soundsystem "terminasse" de forma digna depois de tantas noites arrasadoras e de tantos litros de álcool ingeridos ao som da história da banda: um álbum ao vivo. Depois de uma breve espera e de muita ansiedade, a cereja foi enfim posta em seu lugar e o bolo estava finalmente pronto.

London Sessions, apesar de capturar a banda no seio de uma apresentação, não é um disco propriamente ao vivo, no sentido mais íntimo da palavra. A bolacha foi gravada num estúdio fechado, sem a presença do público. Nada que aqui tenha grande importância. Dentro do recinto estavam apenas a banda e seus instrumentos - o suficiente para concluir uma gravação perfeita, sem pontas soltas e com energia de sobra. London Sessions, gravado em Londres (dã...) nos estúdios The Pool/Miloco, não poderia ser mais simbólico: entre você e seus ídolos, há apenas uma caixa de som e o silêncio ao fundo - e no cabo que liga esses dois lados, um show exclusivo feito apenas para você.


As faixas escolhidas para compôr o novo álbum do LCD foram selecionadas de forma bem estratégica. A alma dos três discos está presente no registro que, além de trazer em suma os grandes sucessos da carreira do grupo, fez questão de gravar músicas com um destaque tecnicamente menor de cada álbum. Há também um outro fator importante ligado aos shows do LCD que deve ser comentado: na frente de 10 ou de 10.000 pessoas, a banda se recusa a reproduzir os sons de estúdio através de computadores. Com eles não rola play e pause; todo e qualquer som emitido pelos instrumentos dos integrantes é feito alí na hora, desde a bateria até o mais imperceptível dos sintetizadores. E, se na frente dos fãs a banda é descontraída e faz tudo no freestyle, imagina o que ela faz em um estúdio lacrado só deles?

Logo de cara, "U v Them" demonstra isso: a faixa aparece ao vivo com novas cores, novos detalhes. A linha de baixo classuda guia o peso da música e ela soa mais completa do que nunca. "All I Want", aquela que lembra a clássica "Heroes" do David Bowie em sua guitarra, segue cheia de vida com pianos mais presentes e acabamentos mais do que certeiros; sem dúvida bem melhor que a versão original. "Drunk Girls", primeiro single de This Is Happening, aqui segue um ritmo mais ágil e pulsante, guiada pela voz extremamente descontraída e despreocupada de James.

"Get Innocuous!", com seu sintetizador carro-chefe inesquecível, eleva o peso da música e deixa sua marca como o ápice sonoro do disco. Logo depois da épica e aqui mais extrovertida do que nunca "Daft Punk Is Playing At My House", chega o momento tão esperado: "All My Friends", uma das melhores músicas que eu já ouvi em toda minha curta vida, se mostra apaixonante e nostálgica como sempre. A voz de James Murphy, aqui mais grave do que o comum, leva com emoção a faixa do começo ao fim tirando bons arrepios de minha espinha. Lindo!


Passado o momento mais pessoal, a festa no estúdio continua com a sequência "Pow Pow", "I Can Change" e "Yr City Is A Sucker", elevando a temperatura sanguínea do ouvinte a milhares de graus. Incrivelmente, cada canção parece ter sido de alguma forma implícita aos meus ouvidos melhor trabalhada, melhor aproveitada. Os arranjos são mais coesos, concisos, e a banda mostra na prática toda sua experiência adquirida em nove anos de estrada com uma singularidade sonora única. A cereja que faltava ao bolo, enfim saboreada, tira qualquer amargor preso na garganta de quem duvidava que o LCD Soundsystem é um dos maiores grupos de nossa década. London Sessions mostrou que, apesar de alguns acharem o som da banda "overrated" demais, a capacidade deles de dominar seu som com perfeição, sem nenhum arranhão e com uma energia descomunal, concede a James Murphy e sua trupe a coroa merecida. Vida longa ao rei!

LCD Soundsystem - London Sessions [2010]


Nota: 9,1

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