quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Resenha: Psicodelia Contemporânea

POSTADO POR GREGÓRIO FONSECA - 15/12/2010

O Cérebro Eletrônico é uma banda com dez anos de estrada, mas ainda presa ao circuito alternativo. O disco Pareço Moderno, lançado em 2008, foi elogiadíssimo pela crítica e fãs, mas ainda assim não foi suficiente para que a banda tivesse um grande alcance nacional. Deus e o Diabo no Liquidificador, lançado há poucos meses, tem potencial para alçar a banda ao sucesso em todo território nacional.

O novo álbum mistura influências de rock, MPB e principalmente do tropicalismo. O caldeirão de referências musicais serve para reforçar a personalidade única do Cérebro Eletrônico. Imagino que se Os Mutantes tivessem surgido nesse século fariam algo parecido. Os primeiros acordes do disco são acompanhados pelos versos “Perdi a decência, ontem eu perdi a noção”. A faixa "Decência" reflete um pouco do espírito da banda: bem-humorada, indecente sem ser vulgar, contemporânea sem perder a poesia.

A mistura de erotismo e amor em "Cama" é épica. É uma daquelas músicas que cresce a cada segundo, com potencial para ser cantada a plenos pulmões em um estádio lotado - ou ao menos no Studio SP. É difícil querer levar a sério uma canção que atende pela alcunha de "O Fabuloso Destino do Chapeleiro Louco". Chapada e psicodélica, é o rock com o refrão mais divertido e sem sentido do disco. "Os Dados Estão Lançados" é a balada sobre o livre-arbítrio que traz a pérola “Deus é mais, o diabo é menos, o homem é mais ou menos”.

A inspirada letra de "Garota Estereótipo" critica as garotas lá do baixo Augusta. A melodia remete ao Vanguart – até que Hélio Flanders entra em cena cantando como convidado especial e tudo faz sentido. "220V" é a única música composta sem a participação de Tatá Aeroplano. É um rock tecnológico que conceitualmente caberia melhor no álbum anterior da banda. Mas como ela só foi gravada agora, é muito bem vinda.

Dá-se um clima carnavalesco na marchinha "Desestabelecerei" e no trava-línguas "Desquite". São canções para os fãs dançarem alegremente e cantarem juntos, se conseguirem acompanhar as rebuscadas letras. "Sóbrio e Só" canta as agruras de um ex-bêbado ou quase-bêbado e caminha para a melancolia ao lado de "Realejo em Dó", que traz uma letra mais reflexiva – sem esquecer do álcool. O disco é fechado pela canção-título "Deus e o Diabo no Liquidificador", a mais séria entre as 11 faixas.

Com 2010 perto do fim, é possível afirmar que o "Cérebro Eletrônico" fez um dos melhores discos nacionais do ano. É disparado o melhor trabalho do grupo, que vinha de dois discos muito bons – a curva de qualidade está só crescendo. Indispensável para fãs de boa música brasileira.

Cérebro Eletrônico - Deus e o Diabo no Liquidificador [2010]


Nota: 9,0

Fotos da banda: Edu Moraes

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