segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Resenha: Futuro Do Presente

POSTADO POR LUCAS LIMA - 10/01/2010

O cenário de fundo que envolve o primeiro disco de estúdio do jovem produtor e compositor inglês James Blake é um bom e velho conhecido dessas linhas: o dubstep ganhou as ruas no final dos anos 90/começo dos anos 00 e de pouco em pouco foi crescendo até se tornar uma vertente da música eletrônica com vastos caminhos tomados que deixam surpresas a cada passo, mostrando-se um terreno fértil para os jovens exploradores que a cada dia nascem e começam a produzir seu som.

A prova de que o dubstep ainda é um ótimo caminho a se seguir e ainda a ser descoberto está aqui: a década acaba de virar e depois de soltar três ótimos e aclamados EP's no ano passado, James Blake lança em seu debut uma nova visão sobre o estilo que juntou as raízes do dub com o 2-step de Londres. Mais minimal, mais fechado, mais tocante. Mais tudo. James Blake, o disco, é um completo e maiúsculo mais. Chega a ser assustador pensar que o rapaz que criou esta obra é um branquelo que provavelmente acabou de começar a criar pelos no rosto tamanha a engenhosidade encravada na simplicidade perturbadora do registro. Aqui há o choque entre os wobble bass mais agressivos do dubstep e as melodias mais exparsas e reflexivas da era mais "dark" do estilo. E, considerando o histórico do garoto, podem ter certeza de que este álbum será um marco diante de seus trabalhos futuros e diante do futuro do dubstep. E nada de modéstia à parte.

É como se James tivesse pego os resquícios do passado e os usado para adiantar o futuro. Quando o dubstep começou, mais sombrio, denso e experimental, ele foi sendo cuidadosamente modelado e pegou estradas mais ensolaradas, agressivas e progressivas. O que James fez foi pegar a ideia do começo, reunir os lados mais reconhecidos do gênero e os colocar numa roupagem ainda mais obscura e contidamente pesada, ainda que frágil e claramente sentimental. As letras denunciam isso devido a sua simplicidade e repetitividade, indo sempre direto ao ponto. Na teoria, o resultado teria uma aproximação maior do minimal e do experimentalismo - o que de fato ocorre -, mas, o ápice, a grande sacada de tudo, foi conseguir fazer com que o som se tornasse algo extremamente à flor da pele e que ainda assim pudesse alcançar ligeiramente as pistas de dança mais intimistas. A verdadeira balada dos sentimentais.

Isso foi devidamente colocado na primeira faixa, "Unluck", que, apesar de curta, traz um ritmo até ágil se comparado ao resto da bolacha. As raízes do dubstep logo ficam claras com o baixo saturado que desliza pelas caixas de som com delicadeza - o mesmo que acontece em "The Wilhelm Scream", que vai crescendo para fora do poço cavado pela voz de James, que lindamente evoca a imagem do soul e do R&B durante o resto das músicas. A mais notável entre elas, "I Never Learnt To Share", é talvez a que mais faça barulho das onze faixas que compõem o registro. A frase "My brother and my sister don't speak to me, but I don't blame them no", ou a letra da música se preferir, vai se perdendo e se embolando em meio ao caos crescente e confuso da faixa, que mostra sua verdadeira face no final.


"Lindesfarne I" é abusada. Chega perto dos 3 minutos de duração e não é nada além de silêncio e um vocoder comandado por James que pouco deixam absorver da letra que parece ser a mais longa do disco. Sua irmã, "Lindesfarne II", provavelmente é uma tentativa mal surtida de compensação pelo quase-sono alcançado minutos antes. O som continua calmo e enrolado no vocoder, agora um pouco mais acolhedor e arrisco até tentar cantar junto. Bom... mas se cantar é a sua intenção, se segura porque logo depois chega "Limit To Your Love", de letra fácil que traz até um pianinho pra acompanhar. Em um momento, o silêncio aparece mas logo é cortado por um verdadeiro e aguardado wobble bass: denso, pesado nos seus termos e retilíneo. Facilmente se encaixa na minha lista de melhores faixas de 2010 (que, aliás, sai em breve) já que foi lançada como single no ano passado.

"To Care (Like You)" tem um ritmo parecido com o de "Unluck" e conta com a participação de uma mulher desconhecida por mim. É agradável e dá pra balançar os pés junto com a batida que vai ecoando em meio a um sampler principal. "I Mind" começa com cortes, reverbs e sobreposições com volumes sutilmente divergentes. Depois de crescer e cair de novo, a faixa abre o caminho para a última música, "Measurements", onde James dá um show particular e sentimental com sua voz e mostra que é um artista completo, um artista de um naipe que eu, sinceramente, não via há muito tempo. É o futuro da música chegando cada vez mais perto. E, se depender dele, já posso adiantar que o futuro é aqui e agora.

James Blake - James Blake [2011]


Nota: 8,7

1 comentários:

matheus disse...

Experimentei há umas semanas e adorei o som, de verdade.

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