segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amadurecer

Minhas amarras ventriculares relacionadas à música jamais passaram perto de qualquer canção produzida pela banda The Horrors. Uma das mais postadas dentro de sites como o Tumblr, por exemplo, não me atraía em nada. Para mim, era tudo uma questão de excessos. Excessos de franja, excessos de terninhos modernos, excesso de hype. Todos aqueles que reclamamos aqui em nossas terras, quando o assunto é banda colorida. Mas se a Restart conseguiu fechar dois shows lotados na Argentina, porque não dar o princípio da dúvida para os britânicos de Southend? A comparação pode ser imprópria, mas a banda colorida nacional e a inglesa em preto e branco (muito mais preto), eram duas coisas abomináveis dentro de minhas sinapses. Uma delas ainda continua uma anormalidade, já a The Horrors...

Desde Primary Colours, o disco que sobreviveu ao hype inicial e provou ser uma bela coleção de canções embebidas em notas eletrônicas e analogia dos anos 80, a banda pareceu evoluir em tempo de maturação. Não existiu muita novidade, muito menos lançaram geniais tonalidades. Tudo muito silencioso demais, em tempos onde o causar impacto parece primordial para que se possa ganhar voz. Mas uma banda que mostrou tamanha densidade em seu segundo disco, evolui pelas sombras do caminho. Por isso o mais recente registro, Skying, colocado em streaming na semana passada, causou uma certa dose de comoção.

Não que exista uma evolução muito grande por entre as claves. Primary Colours poderia ser chamado de Skying Disc 1 sem nenhum problema. O que acontece é que agora a banda libera mais a sensação de certeza por onde quer andar. Não existe o saltar por entre lápides e na mais completa escuridão. O som das canções é maturado em uma dose certa de ebriedade, que transporta seus ouvidos por mundos tão caleidoscópicos quanto a capa do álbum.

Não que exista uma dose de lisergia no trabalho da banda - o máximo que você conseguirá enxergar são algumas saídas por entre os teclados recheadas de ecos, como na canção "Moving Further Away ou You Said", o que mostra uma coleção inegável de influências. Mas a The Horrors parece buscar sua identidade maior dentro de tonalidades que estão dispostas nas histórias, como no caso de "Monica Gems": um aglomerado de distorção e oitentismo, que caberia a comparação com qualquer banda da época. Se lançada uns vinte anos atrás, seria clássico instantâneo.

Mas mesmo com essa regurgitação de milhares de notas proferidas por outros, o disco revela uma busca pelo seu próprio som. Sem nenhuma ruptura com os antepassados. O que pode parecer um contra-senso, afinal de contas o amalgamar de ideias hoje, sempre leva à canções por outras estradas. "Uma passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar", com profetizou Chico Science.

Então porque evoluir usando todos os velhos truques?

Simples, meus genéticos leitores: a banda faz de Skying muito mais do que apenas sua mais nova bolacha. Constrói uma caminhada vivida nas lateralidades, buscando saber quem realmente são. Uma procura por identidade, baseando-se nos ensinamentos de seus pais. Natural como qualquer crescimento, um momento onde é necessário decidir se serão belchioriamente como eles, ou colocarão todas as convicções em xeque e causarão ruptura com o aprendizado. Na fase rebelde da banda, a The Horrors mostra-se mais católica do que gótica.

Seguem as aulas de grandes mestres como Suede, Echo and The Bunnymen, Jesus and Mary Chain, The Cure, Gang Of Four e por aí vai. Mas não pense em algum minuto que isso significa apenas uma mera cópia. Fechar o disco com um literal mar de distorção e assimetrias por entre as notas, como na canção "Oceans Burning", não é coisa para quem apenas realiza fotocópias musicais. Essa faixa deixa bem claro o caráter ligeiramente irrepreensível de Skying.

As canções são todas bem encaixadas e a produção prima pela execução limpa. A névoa aqui é posicionada de maneira estratégica e seminal. Uma sequência auditiva que não cansa, mesmo quando toda a ressurreição de bandas semi mortas é colocada nas notas. Tudo isso com o direito em iniciar o álbum com uma canção que tem ecos do épico, a sensacional "Changing The Rain".

O single "I Can See Trough You" é apenas uma pequena marca dentro de Skying. A maturação do som foi muito além disso. Por mais que a velha e normativa frase, não existe mais nada original de dentro do rock, seja por muitas vezes uma verdade massacrante. Esse álbum consegue uma quase equação perfeita de como montar referências múltiplas e escancaradas, mas ao mesmo tempo mostrar-se em caminho evolucional bem sedimentado.


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