sábado, 25 de setembro de 2010

Crystal Castles @ Circo Voador, RJ, 24/09/2010

POSTADO POR LUCAS LIMA - 26/09/2010

Lapa: o ponto médio de todas as vertentes, gostos e classes sociais do Rio de Janeiro. Numa noite longa de céu carregado que ameaçava desabar uma tempestade sobre nossas cabeças e que logo voltava atrás, cheguei ao Circo Voador exatamente às 19:58h, correndo contra o tempo na esperança de ainda encontrar ingressos promocionais. Um pequeno grupo de fãs assíduas (todas mulheres) já estava a postos aguardando a abertura dos portões, que aconteceu lá pelas 22h. A espera, que parecia nunca acabar, foi diminuindo conforme chegavam mais algumas pessoas. Nada que tivesse sequer relevância: quando os primeiros começaram a entrar, encontramos um Circo Voador vazio e gelado.

Assim a melhor casa de shows do Rio de Janeiro permaneceu durante o DJ Set de Diogo Reis (Moo) e Badenov, que abriram os trabalhos e que contaram com muito pouca gente na pista dançando. A situação - do público - melhorou lá pra 00:00h, quando o ótimo duo Digitaria - que lançou seu segundo disco na noite - botou todo mundo pra dançar e encher o Circo. Seu set foi muito convincente e alternava momentos mais calmos e momentos mais fortes com viradas destruidoras. A apresentação excepcional foi o único motivo que não deixou muita gente que não era fã simplismente desistir e ir embora. A demora até a entrada do Crystal Castles foi uma das mais longas vividas por mim.

Só quem estava muito bêbado ou drogado aguentava ficar de pé - muita gente não digeriu a pressão e foi sentar ou até dormir (André, o autor de parte das fotos do post, deitou no banco e tirou um cochilo de verdade). De surpresa, quando todo mundo já estava acabado e com os pés inchados, as luzes do palco se apagaram e o clima etéreo dos gritos se encravou em volta do Circo. 01:30h. Era chegada a grande hora.

Envolto nas sombras escuras do palco, Ethan Kath caminhou até seu lado no palco e começou a reproduzir sons barulhentos ao extremo junto com o baterista Tom Cullen, que entrara logo depois. Quando os sons hipnóticos de "Fainting Spells" começaram a ressoar no Circo Voador, eis que surge uma sombra errante, adentrando o palco num casaco gigantesco com o microfone em uma mão e uma garrafa de uísque na outra - bebida que seria dizimada pela cantora nas próximas uma hora e meia de show junto com um maço de cigarro. Assim que a figura olhou (ou pelo menos tentou) para o público com os olhos sendo retorcidos para cima, não haviam mais dúvidas; a grande incitadora Alice Glass estava lá.

Numa explosão cósmica arrebatadora, Alice saiu de sua posição inerte e começou a berrar e a se chacoalhar freneticamente nos primeiros versos da música de abertura. No mesmo clima destruidor e punk surgiu a incrível "Baptism", que fez com toda certeza a estrutura do Circo penar em meio aos flashs inacabáveis. "Courtship Dating" e "Insectica" vieram na sequência numa tentativa de quebrar tudo, o que de fato ocorreu logo depois em "Doe Deer", onde abriu-se uma rodinha em volta de mim e chutes e socos eram as únicas coisas visíveis em meio a iluminação perfeita. O que fazer numa situação dessas? Cair dentro! E lá fui eu chutar, socar, apanhar e depois sair rindo. Só para loucos, como diria Ventania.

"Celestica" quebrou um pouco a aura porradeira mas ainda assim fez muita gente pular e cantar em coro o refrão do primeiro single do último álbum da banda. Depois de "Empathy" veio na sequência a instrumental "Reckless" e a épica "Crimewave", fazendo os fãs ainda vivos pularem alto. "Air War" foi o prelúdio para "Alice Practice", que fez o público delirar e se entregar ao volume excruciante dos amplificadores.


Depois de descer até o público e até nadar sobre ele (afrontando os seguranças do Circo) várias e várias vezes durante toda a duração do show, Alice fechou a primeira parte da apresentação subindo no bumbo da bateria de Tom e martelando ininterruptamente os pratos e todo o resto da mesma com o seu já destruído microfone em "Untrust Us". O ao vivo trio saiu do palco com um sinal de despedida broxante que fez muita gente acreditar que eles tinham realmente ido embora, já que mal tinham se comunicado com a plateia.

Trazendo a alegria de volta, os maestros voltaram a seus postos rapidamente e tocaram a ótima "Intimate", reativando a energia oculta do público. Pra fechar o épico e inesquecível espetáculo, a banda tocou a exclusiva dos shows "Yes No", mais uma na qual Alice fez questão de mergulhar sobre a plateia. Durante toda a música a moça ficou sendo puxada de um lado para o outro pelo público que abusava de seu corpo com as mãos e a fazia sussurrar "fuck me, fuck me, fuck me" com os olhos virando para cima. Quer frontwoman com mais contato com o público que essa?

Assim, no meio de um êxtase físico e mental, terminou com certeza um dos melhores shows de minha vida. A magia terminara e o cansaço se transformara numa vontade súbita de "quero mais, quero mais". Minha vontade não foi realizada, mas outras duas marcaram a minha vida para sempre: ví ao vivo uma das bandas mais vorazes e energéticas de nossa época e ainda passei a mão na coxa da Alice por dentro de sua saia. Acho que já posso morrer feliz...

Fotos: André Teixeira

0 comentários:

Postar um comentário

> <
 
 
© DiscoPops. All Rights Reserved. Powered by Blogger. Designed by Ouch! Themes